Há muito tempo que não havia um evento, no âmbito dito underground, tão organizado e interessante como o de sexta-feira (3). Pelo menos não em Niterói.
Se encontrava uma galera “séria”. No sentido de rockeiros, skatistas, grunges, metaleiros, colecionadores de discos, jornalistas musicais, enfim, pessoas do verdadeiro mundo do rock. E não como as aberrações adolescentes emo, influenciadas por esquisitices como NX Zero, Fresno, Glória, My Chemical Romance, Good Charlotte e outros.
O preço do ingresso era uma verdadeira bagatela - r$ 10 até 00h, r$ 15 após esse horário. No andar debaixo da Box 35, havia a pick-up dos DJs André Mansur e Marco “Bart” comandando vários estilos, que iam de clássicos como Beastie Boys, Grandmaster Funk até Bad Religion, SOAD.
Indo pra parte de cima, dava-se de cara com a mesa do ilustre Pedro De Luna, autor do livro Niterói Rock Underground (1990-2010), idealizador do evento e um dos fundadores da organização Araribóia Rock. Na maior carisma e simpática, Pedro assinava e dava autógrafos em seu livro, para cada um que comprasse. E ainda arranjava uma brechinha pra conversar com os jornalistas e amigos!
O livro, que contém fotos de várias bandas – na sua maior parte finadas - e histórias legais, fala de memórias de uma Niterói rockeira que não existe mais. Melhor: retrata uma cena do rock brasileiro, onde a moda era tocar som pesado, cultuar as bandas de Seattle e o mundo underground ainda era de gente grande.
A casa já estava cheia em pouco tempo de abertura. Quase todos os integrantes das 6 bandas (Self, Seu Madruga Veste Preto, Sanity Voice, Bendis, Enzzo e Curinga – todas já extintas) que iam tocar haviam chegado. E foi nesse clima que o primeiro grupo da noite a se apresentar subia no belo palco montado no segundo andar. O Self fez um show tocando algumas coisas antigas, mas incluindo coisas novas em seu repertório, como a cover de “Use Somebody”, do Kings Of Leon. Embora a guitarra-solo estivesse inaudível, o grupo fez uma apresentação digna, mostrando um rock alternativo à la Coldplay.
Enquanto mais pessoas chegavam e latinhas de cerveja Itaipava já apareciam pelos cantos, Seu Madruga Veste Preto, uma das principais bandas do hardcore niteroiense, entra em seguida ao estilo dos velhos tempos em que se apresentavam no Convés Bar: rasgando tudo com irreverência, atitude e visual californianos, com direito à pessoal insandecido subindo no palco com máscara de macaco ou indo ficar agarrado o com baterista(???). Por sinal, a primeira roda punk do evento foi aberta no show deles.
A galera que queria dançar ou dar uns beijos se encontrava em sua maior parte no primeiro andar. Mas o povo queria mesmo era ver as bandas ressucitadas. Aí que sobe ao palco o Sanity Voice. A apresentanção foi épica. De início tocaram material novo, coisas suingadas, meio Rappa. Porém a galera foi ao delírio quando “desceram o braço” com o clássico “Hardcore Até a Morte!”. Surgiu logo uma baita roda no público e todos cantavam juntos. Há muito tempo não se via um show de hardcore assim em Niterói.
Mas talvez quem tenha mais chamado atenção foi o Bendis. Pra começar que eles fizeram história na cidade, desde os tempos que tocavam no finado Studio Bar por entre 1995/1996, até nos anos 2000 quando despontaram na cena do eixo Sudeste-Sul brasileiro se apresentando em todos os tipos de eventos. O pessoal estava superanimado, com vários amigos, integrantes de outros grupos aclamando e brincando com os rapazes. Assim que começa o show, pelo menos 3 pessoas sobem no palco pra cantar, gritar e pular, fazendo a maior bagunça. O grupo tocou seus sucessos “Síndrome do Pânico”, “Esmola” e outras canções. Houve uma briga rápida entre o vocalista Bruno GI Joe e o baixista do Seu Madruga Veste Preto que ajudava nos vocais. Provavelmente um deles pegou pesado nas brincadeiras de socar e empurrar.
Em seguida o Enzzo, um dos expoentes niteroienses dos anos 90, entra em cena trazendo seu estilo ska-reggae-punk, com o guitarrista Bruno Marcos (fundador do selo Tomba Records) ajudando nos vocais. Aliás, as duas últimas bandas relembraram a época em que Niterói e o mundo inteiro ainda estava sob efeito da cultura grunge-skatista americana.
O Curinga subiu ao palco inovando: usou de programadores para efeitos de bateria e percurssão. Com um tom Planet Hemp e Beastie Boys, a banda do DJ e guitarrista André Mansur fez uma apresentação boa para uma audiência um tanto vazia. Mas o fato hilário foi o tombo que o baixista levou, devido ao nível alcoólico elevado, aparentemente por caipirinhas.
Já eram 4h da manhã e as pessoas começavam a ir embora. O festival de lançamento do livro foi um sucesso. Mas vai deixando saudades, pois cada vez mais são raros os eventos underground em Niterói que valem a pena sair de casa e pagar para entrar. Assim também ficam as memórias na cabeça de quem curtiu os festivais e bandas que existiam por aqui e no Rio pelos anos 90 e 2000. Os tempos mudaram.
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